Maior fabricante de produtos eróticos fatura R$ 24 milhões ao ano
Com 200 funcionários e 700 tipos de cosméticos, acessórios e lingeries, a
Hot Flowers é considerada a maior da América Latina
Em 2003, Edvaldo viajou para São Paulo para comprar sua primeira prótese peniana. Acompanhado de um amigo e munido de óculos escuros para disfarçar a timidez, entrou num sex shop na rua Amaral Gurgel, no centro da capital paulista. Ficou chocado com o que viu. Além de algemas, roupas de couro e consolos, a loja tinha pequenas salas usadas pelos homens para se masturbar. Quando saiu de lá com a encomenda em mãos, ficou com vergonha de andar no metrô com a sacola das compras. Oito anos depois, Edvaldo vive cercado de mais de 50 tipos de próteses penianas de todas as formas, cores e tamanhos. Engana-se quem pensa que ele seja um viciado em sexo. Aos 44 anos, Edvaldo Bertipaglia é fundador e dono da Hot Flowers, a maior fabricante de produtos eróticos e sensuais da América Latina.
Localizada em Indaiatuba, pacata cidade de 200 mil habitantes no
interior de São Paulo, a Hot Flowers tem em seu portfólio mais de 700
tipos diferentes de produtos eróticos e sensuais. Eles variam de uma Hot
Ball, pequena bola de gelatina recheada com um gel que ajuda a
apimentar a relação, até bombas para aumento do pênis - passando por
vibradores, lingeries, filmes pornográficos e cosméticos. Com mais de
200 funcionários, a empresa faturou R$ 24 milhões e teve lucro de mais
de R$ 3 milhões em 2010. Mais de 60% da receita vem dos cosméticos, cujo
carro chefe são as Hot Balls. Cerca de quatro mil bolinhas são
fabricadas a cada hora, número que vai quadruplicar nos próximos meses,
quando a empresa receberá uma nova máquina trazida do exterior.
Quem vê os números da Hot Flowers não acredita que a empresa surgiu por
acaso. Nascido em Tupi Paulista, a 663 quilômetros de São Paulo,
Bertipaglia é filho de lavradores. Quando tinha sete anos, migrou para
Indaiatuba com os pais, que buscavam novas oportunidades. Um ano depois
foi obrigado a largar a escola e trabalhar para ajudar a pagar as contas
da casa. O primeiro emprego foi num bar e depois trabalhou como
mecânico de automóveis. Quando vendeu a oficina, surgiu a chance de
virar sócio dos irmãos numa distribuidora de produtos de limpeza que
tinha como principais clientes os motéis da região. Responsável pela
parte comercial, Bertipaglia começou a prestar atenção nos cremes e
acessórios que encontrava nos quartos. "Foi quando vislumbrei uma
oportunidade", afirma.
Ao lado de sabonete líquido, água sanitária e papel para enxugar as
mãos, Bertipaglia passou a carregar na sua pasta produtos eróticos e
sensuais para oferecer aos motéis. A princípio, vendia apenas
cosméticos, como gels e estimulantes. Logo decidiu acrescentar lingeries
e acessórios. Apesar de não ter experiência no mercado, decidiu
produziu seu primeiro vibrador numa empresa que fabricava bonecas. O
resultado foi desanimador: feito de um plástico duro e oco, ele não caiu
no gosto dos clientes. "Quando procurei casas de sex shop para oferecer
minha linha de produtos eles me diziam que eu estava 20 anos atrasado,
que os novos modelos eram muito mais modernos”, diz Bertipaglia. “Tem
hora que dou risada do que fiz no passado, só não fiquei em situação
ruim porque tinha outra fonte de renda”.
A situação só começou a melhorar em 2004, quando Bertipaglia conheceu
um vendedor de lingeries que trabalhava com sacoleiras e atacadistas em
São Paulo. Eles fecharam parceria e começaram a oferecer calcinhas e
sutiãs ao lado de gels e cremes estimulantes. Foi um sucesso.
Bertipaglia passou a vender seus produtos para lojas nos bairros de
Santo Amaro, Bom Retiro e Brás, conhecidos pontos de atacado da capital
paulista. Aos poucos começou a incluir outros produtos do seu portfólio.
Hoje, vende para 26 distribuidores em todo o Brasil e o lucro sempre
volta para empresa. Bertipaglia já investiu mais de R$ 10 milhões em
máquinas para a fábrica. Como não gosta de terceirizar nenhuma etapa da
produção, mantém até uma ferramentaria para fazer os moldes das próteses
penianas.
Apesar do crescimento, a Hot Flowers mantém uma estrutura familiar. A
esposa de Bertipaglia, Eliane, trabalha como gerente comercial e faz a
comunicação da empresa. O filho mais velho começou na empresa aos 14
anos e passou por todas as áreas. Cinco anos depois, trabalha no
departamento financeiro. Já Bertipaglia faz um pouco de tudo: pesquisa o
mercado, procura oportunidades (está negociando uma parceria com a
Lelo, maior fabricante de produtos eróticos do mundo) e até participa do
desenvolvimento produtos. O perfume Das Putas, uma brincadeira com a
grife carioca Daspu, foi idealizado por ele e se transformou num dos
mais populares da Hot Flowers. Sua dedicação aos negócios é tão grande
que construiu sua casa ao lado da sede da empresa, no distrito
industrial. “Tem empresário que gosta de comprar mansões, carrões e
barcos”, diz o empresário. “Prefiro acompanhar de perto o crescimento da
empresa”.
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