sexta-feira, 19 de abril de 2013

Ponte Preta pleiteia homenagem na Copa de 2014. Pioneira em democracia racial

Equipe de Campinas já enviou dossiê à entidade máxima do futebol para ser reconhecida como primeiro clube a aceitar negros no plantel

Os primeiros negros no futebol brasileiro
Desde 2003, a Ponte Preta tenta ser reconhecida pela Fifa como o primeiro clube a aceitar e ter jogadores negros em seu time. Mas o trabalho de pesquisa e documentação sobre a história do futebol em Campinas, que começou em 1996, é do historiador e pesquisador da Ponte, José Moraes dos Santos Neto – na época, ele ocupava cargo na Unicamp.
Em um dos trechos do dossiê enviado à Fifa, Santos Neto cita o time formado no Bairro da Ponte Preta, em Campinas. Leia trecho abaixo:
“(...) Os meninos e rapazes jogadores de futebol eram brancos, negros e mulatos. Entre os jovens tínhamos quatro negros e dois mulatos, mas um deles se tornou jogador do primeiro time da Ponte Preta após sua fundação em 1900, seu nome era Miguel do Carmo. Em 1900 esses rapazes resolveram fundar um time de futebol, para tanto contaram com o apoio do alemão Theodor Kutter, do austríaco Nicolau Burghi, do brasileiro descendente de alemães Hermenegildo Wadt e do brasileiro Capitão João Vieira da Silva. O objetivo era fundar uma associação sem preconceito de raça ou religião para praticar o futebol . Em 11 de agosto de 1900 é fundada a Associação Atlética Ponte Preta (...)”.
A entidade respondeu com carta assinada pelo então chefe de relações públicas Federico Addiechi, mas reconhecendo a Ponte Preta apenas como “um exemplo de igualdade, fraternidade e não-discriminação, através de seu time de futebol por mais de um século”.
Miguel do Carmo tinha 15 anos na época. Jogou pela Ponte Preta e morreu jovem, aos 33 anos, depois de passar por uma cirurgia no estômago.
Ponte ou Vasco?
Um debate antigo que acirra a discussão sobre o tema é: qual clube aceitou o primeiro negro no Brasil, Ponte ou Vasco? O Club de Regatas Vasco da Gama foi fundado em 21 de agosto de 1898, por um grupo de 62 rapazes na maioria imigrantes portugueses, com o intuito de ser uma associação dedicada à pratica do remo, principal esporte do Rio de Janeiro, na época, a capital do país.

O Vasco só incorporou ao clube um time de futebol em 26 de novembro de 1915, quinze anos após a fundação da Ponte Preta, que não faz distinção de raça desde sua fundação, em 1900. A razão disso? Era possível notar a presença de negros e mulatos entre seus fundadores. O jogador Miguel do Carmo, por exemplo, foi titular do time ainda no primeiro ano do clube. Embora o Vasco, em 1904, tenha elegido um presidente negro, não há dúvidas, de que a Ponte Preta é pioneira na democracia racial do futebol brasileiro, por pelo menos quatro anos. E isso não é papo de torcedor, é matemática.

Se os números deixam dúvidas, qual a razão da existência do debate?
1) O livro “O negro no futebol brasileiro”, de Mário filho, a principal fonte de consulta sobre a história dos jogadores negros no Brasil, embora precioso como acervo de informações, abrange apenas os clubes do Rio de Janeiro, e entre esses clubes, realmente, o Vasco se destaca na questão da aceitação do negro;
2) durante toda a sua história o Vasco sofreu preconceitos e foi penalizado por ter negros no seu elenco. Episódios que mancharam o esporte, e de tão marcantes vão ser sempre lembrados como marcos da história do futebol brasileiro.

Não se discute a importância e o valor da luta do Vasco, mas a Ponte também foi atuante na luta contra o preconceito. Assumiu a cor preta no nome e no uniforme. Levantou uma bandeira. Pediu liberdade a uma cidade conservadora, nada menos que o último município brasileiro a abolir a escravatura.
A partir de meados da década de 10, a Ponte passou a ser denominada a "Veterana" porque, entre os muitos clubes que surgiram na virada do novo século em Campinas, foi o único que sobreviveu e, até por isso, acabou sendo o mais antigo. Não é à toa, e nem demérito vascaíno, mas é inegável, que o primeiro jogador negro do futebol brasileiro nasceu nos colos da centenária Preta Velha!
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